Ela sempre esteve do lado seguro do jogo, protegida por mil muros de puro orgulho sólido, e ornamentados com narcísos, mas o mundo lá fora é uma selva, quando ele te falava sobre isso você costumava rir, mas passado o tempo vê que nunca foi mais que uma pequena menininha, e agora já não se importa e nem se comove com os olhares brilhantes, porque aprendeu que no fim eles sempre se apagam e que se depender deles para se guiar na escuridão acabará perdida, pois percebeu que nem tudo o que reluz é ouro, é enfim simples pedra bruta.
Sintetizou a vida em caixas, e viu o quanto tudo que te tocava não tinha sentido algum, tudo era feito de ar e nada era de fato permanente e ainda tentou segurar o inevitavel nas mãos, mas a vida é surda e cega, e como uma ampulheta de areia o tempo voou mostrando a essa garota que se pode evaporar de sí mesmo num girar de mundo, levando você para longe de você e deixando no lugar a sombra de quem já foi e não é mais. Quem se perde de sí mesmo passa os dias a mercê do tempo e espaço à procura daquela que conhecia tão bem, e pessoa egoísta que é não suporta a idéia de não se ter, e paga todo o preço por isso, é consideravel que sua companhia seja apenas para os de maior paciência, ela sabe disso, e não culpa ninguem por ter essa opinião. E se arma todos os dias, não aguenta a eterna função de colar o que insiste em cair, ja não sabendo o limiar do são e do insano, pede constantemente, feito uma criança que mentalmente faz a lista de presentes ao papai noel, que tudo seja uma brincadeira das mais tolas e que nada se desfaça em saudades, que as velhas mãos que segurou por tanto tempo e aquele mesmo olhar que jurou te proteger de toda e qualquer dor, e que mesmo sem mais poder olhar ainda se preocupava com o coração apertado que batia em teu peito, abra a porta e a chame para comer um café da manha na padaria.