sábado, 13 de dezembro de 2008

Desatino


Veste o calçado de outro,
e apesar de não servir, o desgasta.
Feridas nos calcanhares lhe surgem,
mas a dor amortecida o agrada; seu perverso prazer o sustenta.
As estações agora mudam,
e seus cabelos pertencem ao chão.
Os pensares o envergonha
e os sapatos estão no lixo.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Confuso


Nada de fato me tange, viro as costas e tudo se esvanece. Cansada de estar sempre em pólos extremos, sonhando com o olho do furacão, me disseram que é o lugar mais calmo que se pode estar nessa situação, e aspiro por essa calmaria prometida, mas que inevitavelmente trás a tempestade, isso é um fato conhecido. Olho ao redor buscando sentidos que um dia havia apenas visualizado a sombra, e que de tão perto pude sentir o seu respirar abafado, mas como um animal assustado se escondeu das minhas percepções.
Sinto tanto num espaço tão vazio que isso apenas se torna passatempo, não aceito crenças e preocupações postas no meu agir, não possuo essa paciencia, expectativas levam a decepções e eu não pedirei perdão, se eu te disser no que acreditar em mim, a culpa será sua por ter aceitado. Usamos mascaras todos os dias, algumas que superam o sentido do ser e outras que nem chegam a ser suportadas, mas o real é que usamos, não passamos de atores.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tempo


Todas as formas de pensamento me levam ao mesmo lugar, me perco no labirinto do sentir e uso do irracional como mapa para a saida, e nesse meio tempo o tempo se torna inteiro, fazendo com que as horas pareçam dias que se arrastam da pior forma possivel.
Fantasmas me atacam em pontos estratégicos e fixam olhares enigmaticos que só me mostram o que eu não sou. Sei dos meus erros mais drásticos e sinto por todos eles, entretanto isso não me impede de continuar errando. Você agora se tornou maior do que eu, e aprendeu os meus truques, olha de modo distante e me orgulho da sua fortaleza, deixou o nosso banco da praça para aqueles dias de primavera.
Ouço vozes que nada me dizem e sinto o tempo que nada me tras, toda a loucura sensivel torna o concreto insano, mas ainda assim me apego ao cinza que absorve todo o calor.

domingo, 20 de julho de 2008

Errada.


Minha, só minha. Esse é o meu estado: indivisivel. Você não compreende, e não compete a mim explicar. Observe, analíse e veja que a loucura é essencial em praticamente todas as formas de vida, não do tipo em que se deve trancar numa sala alcochoada, mas sim aquela inconsciente em que a briga interna se dá de modo tão intenso que o que se passa ao exterior é a calmaria medida e calculada para suportar o dia a dia. É incomodo ver a necessidade de mim, e é real que me afasto dois passos a cada um passo de qualquer corajosa criatura, eu atento a não me apegar as coisas, é um esporte que pratico desde o dia do meu nascimento, e sou a atual campeã.

Irritada, sempre! Tentar não morder alguem na perna, é uma meta. Me aborreço facilmente com a pouca visão que se pode ter no cotidiano, até o lado mais "contrastado" pode fazer questão de cair na repetição. Ou não. Posso ser eufórica por majestosos noventa minutos, e não compreender a noção de todo o espaço material que me rodeia.

Tentar abrir essa cabeça e olhar sem atenção é o mesmo que entrar em um quarto arrumado e não fazer questão de abrir os armários.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Cirandar


Por que você me diz, todo espevitado:
"Eu sei me virar, não nasci quadrado!"
Só me resta responder, com o semblante preocupado:
"Meu bem, não é assim. Você está equivocado."
Não é do seu feitio estar sempre informado,
E pega as suas coisas, vai embora apressado.
Me deixa a perguntar o que saiu errado
e quebra a minha rima.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A ti.


Ela sempre esteve do lado seguro do jogo, protegida por mil muros de puro orgulho sólido, e ornamentados com narcísos, mas o mundo lá fora é uma selva, quando ele te falava sobre isso você costumava rir, mas passado o tempo vê que nunca foi mais que uma pequena menininha, e agora já não se importa e nem se comove com os olhares brilhantes, porque aprendeu que no fim eles sempre se apagam e que se depender deles para se guiar na escuridão acabará perdida, pois percebeu que nem tudo o que reluz é ouro, é enfim simples pedra bruta.
Sintetizou a vida em caixas, e viu o quanto tudo que te tocava não tinha sentido algum, tudo era feito de ar e nada era de fato permanente e ainda tentou segurar o inevitavel nas mãos, mas a vida é surda e cega, e como uma ampulheta de areia o tempo voou mostrando a essa garota que se pode evaporar de mesmo num girar de mundo, levando você para longe de você e deixando no lugar a sombra de quem já foi e não é mais. Quem se perde de mesmo passa os dias a mercê do tempo e espaço à procura daquela que conhecia tão bem, e pessoa egoísta que é não suporta a idéia de não se ter, e paga todo o preço por isso, é consideravel que sua companhia seja apenas para os de maior paciência, ela sabe disso, e não culpa ninguem por ter essa opinião. E se arma todos os dias, não aguenta a eterna função de colar o que insiste em cair, ja não sabendo o limiar do são e do insano, pede constantemente, feito uma criança que mentalmente faz a lista de presentes ao papai noel, que tudo seja uma brincadeira das mais tolas e que nada se desfaça em saudades, que as velhas mãos que segurou por tanto tempo e aquele mesmo olhar que jurou te proteger de toda e qualquer dor, e que mesmo sem mais poder olhar ainda se preocupava com o coração apertado que batia em teu peito, abra a porta e a chame para comer um café da manha na padaria.